A HISTÓRIA DO TRADICIONAL BELENENSES
publicado no site terceiro tempo.com.br
O sol da manhã brilha no outono lisboeta iluminando os fiéis torcedores que sobem a rampa de acesso do Estádio do Restelo. Acessar as arquibancadas transpondo as escadas da casa do Clube de Futebol Os Belenenses te faz mergulhar num ambiente único que, de cara, tem um visual único e ensina ao mundo do futebol sobre o amor.
O tradicional clube da região de Belém, na capital portuguesa, com uma trajetória mais do que centenária viveu o pior momento de sua história, recomeçando sua caminhada na última divisão do país e vem, ano após ano, tentando reconquistar seu lugar na elite, apoiado por sua rica história (que conta com brasileiros importantes) e a paixão de uma torcida que, faça chuva ou faça sol, empurra o time jogo após jogo, seja no Restelo ou nos pequeninos estádios do interior do país.
Fundado em 1919, na belíssima Lisboa, o Belenenses se colocou entre os principais clubes de Portugal conquistando a primeira divisão do país na temporada 1945/46 e três Taças de Portugal (1941/42, 1959/60, 1988/89), fazendo frente aos gigantes Benfica, Sporting e Porto em muitos momentos.
Já no século XXI, o clube da região de Belém foi comandado por Jorge Jesus, ex-treinador de Benfica, Sporting, e multicampeão com o Flamengo. O “Mister”, como ficou conhecido no Brasil nos anos a frente do Mengão, trabalhou no Estádio do Restelo entre 2006 e 2008, mas como jogador vestiu a camisa azul e branca entre 1976 e 1977.
Como na história de tantos clubes grandes, os “Azuis da Cruz de Cristo” viveram o pesadelo do rebaixamento em algumas oportunidades (a primeira delas em 1982, e mais tarde em 91 e 98). Mas foi em 2018 que algo jamais imaginado por sua torcida acabou se concretizando: o Belenenses foi parar na terceira divisão distrital, equivalente ao sétimo escalão do futebol de Portugal.
O SONHO DO CLUBE-EMPRESA VIROU PESADELO
O movimento de transformação de clubes-empresa que vemos acontecer atualmente no Brasil chegou em Portugal ainda no final dos anos 90. Por determinação da liga, os clubes que quisessem disputar a primeira divisão lusitana passaram a ser obrigados a formar uma Sociedade Anônima Desportiva (SAD), responsável por gerir de forma profissional o futebol das entidades, dando aos clubes a possibilidade de buscar investimento externo.
Em 2012, a sociedade anônima do Clube de Futebol Os Belenenses foi comprada pela Codacity, empresa que assumiu 51% das ações da SAD prometendo fazer o clube mais forte. Em pouco tempo, porém, a relação entre clube, torcedores e investidores desandou e teve início o momento mais difícil da história azul, como explica Afonso Santos, jornalista do site português Bola na Rede, e narrador da Belém TV, canal oficial do clube que transmite as partidas da equipe nas redes sociais.
“(Com a compra de 51% do futebol profissional) Foi feito um protocolo entre clube e SAD para que a equipe utilizasse o estádio, para que os torcedores continuassem tendo uma equipe na primeira divisão. A SAD não cumpriu parte desse acordo, muitas vezes não pagava contas de luz, de água, buscavam jogadores na base, que seguia pertencendo ao clube, e não pagava os direitos de formação. O clube começou a processar a SAD, enquanto a SAD também processou o clube”, comenta.
“Quando a SAD foi vendida à Codacitty, foi estabelecido que o clube poderia recomprar a porcentagem da SAD, que era de 51% do futebol profissional. A SAD, no entanto, quebrou esse protocolo dizendo que o clube não tinha condições de comprar essa porcentagem. O caso foi à justiça e o tribunal decidiu a favor da SAD. (…) Quando o clube vende os 51% era com a ressalva muito grande que o futebol poderia retornar ao clube”, explicou o jornalista.
Em 2018 foi o estopim dessa relação complicada. Vendo a SAD cada vez mais distante, o clube deu um ultimato aos investidores, sinalizando uma profunda ruptura. Os responsáveis pela Codacity decidiram por levar a equipe profissional embora do estádio do Restelo. Veio, então, a decisão mais brusca possível por parte do Belenenses. E uma escolha tomada por quem mais ama a camisa azul.
“As partes se separaram cada vez mais, até que no final da época de junho de 2018 o clube fez um ultimato à SAD, impondo pagamentos, condições que na opinião da SAD eram exageradas. A SAD disse que não cumpriria com as condições e que mudaria o clube para outro estádio, foi para o estádio do Jamor. E foi votado em assembleia geral dos sócios para que o clube desapegasse da SAD, já que o clube ficou sem equipe na primeira divisão. Os torcedores decidiram que a SAD já não tinha mais relação com o clube”, comentou Afonso Santos.
Com a saída da SAD, foi estabelecido um processo em tribunal, com duas decisões a favor do Belenenses, destacando que a empresa não pode usar o nome e o símbolo do clube. Com isso, a SAD tem um novo símbolo, embora imprensa e a própria liga portuguesa sigam chamando a equipe da Codacity de Belenenses, ou Belenenses SAD. No dia a dia da B-SAD, no entanto, poucos torcedores se sentem ligados ao novo clube e frequentam o Estádio do Jamor, onde a SAD manda seus jogos.
Nas palavras do presidente do Belenenses, Patrick Moraes de Carvalho, o homem responsável por capitanear a viagem dos azuis rumo à elite portuguesa, o clube foi parar no “inferno”, e a missão agora é voltar ao seu lugar no menor tempo possível.
“Tivemos que baixar ao inferno, a última divisão em Portugal, que corresponde à sétima divisão. Tivemos que fazer esse caminho, que até o momento tem tido êxito, já que a cada ano subimos de divisão”, declarou o dirigente do clube lisboeta.
“O projeto passa por subir de divisão, porque os adeptos não têm paciência e o presidente também não, devido a grandeza do clube. Para nós tem sido muito danoso fazermos esse caminho, jogar essas divisões, com todo o respeito que temos aos adversários. Mas nosso objetivo é estar o mais rápido possível na Primeira Liga. Nós e nenhum português compreende que possa haver Primeira Liga sem o Belenenses, nesse momento o Belenenses não está na Primeira Liga e faz muita falta ao futebol português”, comentou.
Enquanto o Clube de Futebol Os Belenenses luta para retornar ao ponto mais alto do futebol português, o B-SAD, que ficou com a vaga na primeira divisão, brigou na parte de baixo da tabela nos últimos anos e terminou a última temporada do Campeonato Português rebaixado para a segunda divisão.
A TORCIDA ESCOLHEU RECOMEÇAR DO ZERO
A decisão da Codacity de levar a equipe profissional para longe do Estádio do Restelo levou os associados do Belenenses a tomar uma decisão dura: romper de vez com a empresa, entrar na justiça para manter o nome do clube e montar uma equipe, ainda que isso custasse a vaga na primeira divisão.
Mas os adeptos do clube de Belém não só tomaram a dura decisão, como deram uma rara demonstração de amor ao time, e não só passaram a seguir fielmente a equipe nas arquibancadas do Estádio Restelo ou de qualquer outro campo nas divisões mais baixas de Portugal, como fizeram crescer o número de sócios, como explica o jornalista Afonso Santos.
“Acho que a melhor situação deveria ter sido buscar um acordo com a SAD, apesar de não gostar da liderança da Codacity, creio que o Belenenses merece uma equipe na primeira divisão. Mas apesar disso, eu e os torcedores apoiamos a equipe que foi para as distritais. O Belenenses até teve um crescimento de sócios quando vai para a distrital, com o crescimento do apoio nas arquibancadas. O primeiro jogo na distrital tinha mais de 4 mil pessoas, número maior do que muitas equipes na primeira divisão”, disse o jornalista português, que também é torcedor do Belenenses.
A palavra que explica a relação torcida e clube é o amor. Diversas vezes citadas por torcedores nas arquibancadas do Estádio Restelo, na vitória por 2 a 1 sobre o Operário, em novembro de 2021, no primeiro turno da quarta divisão portuguesa, a palavra foi citada como a grande explicação dada pelo presidente do clube, Patrick Moraes de Carvalho.
“É o amor ao clube. Costuma-se dizer que o amor move montanhas. As pessoas têm um amor muito grande pelo clube. E se calhar, mais do que nunca, em 102 anos de história, o clube precisa do apoio de todos. Essa foi uma escolha da massa associativa, foi uma escolha de todos os belenenses, se vc pensar, será muito difícil no Brasil ou no resto do mundo, encontrar uma torcida que tendo um time na Primeira Liga abdique e aceite fazer essa caminha desde o inferno. Tem que ser um amor muito, muito grande que sentimos por esse clube”, disse o presidente.
A RELAÇÃO COM BRASILEIROS
Em sua história mais do que centenária, o Belenenses viu alguns brasileiros passarem pelo clube com muita importância. Dois, em especial, são citados com carinho pelos torcedores no Restelo: Marinho Peres e Abel Braga.
Ex-zagueiro do Santos, do Internacional, do Barcelona e da seleção brasileira, Marinho Peres passou quatro vezes pelo Estádio do Restelo como treinador, na mais importante de suas passagens, na temporada 1988/89, conquistou o último grande título do clube, a Taça de Portugal. Mais do que o suficiente para estar entre os grandes da história azul, eternizado em fotos no túnel de acesso ao gramado.
Abel Braga assumiu o comando do time de Belém em 91, quando a equipe estava na segunda divisão, e foi responsável por comandar o time na campanha de retorno à elite portuguesa.
Já entre jogadores, alguns estão marcados na história do clube. O jogador tupiniquim que mais vestiu a camisa azul foi o goleiro Marco Aurélio, que defendeu a equipe do Restelo por 228 jogos, entre 1996 e 2007. Outro brasileiro muito marcante na história do clube foi o lateral-esquerdo Zé Mário, que jogou no Guarani entre 1982 e 1987, e que desembarcou em Belém indicado por Marinho Peres, conquistando a Taça de Portugal com o treinador brasileiro.
O FUTURO
Desde que reiniciou sua história na última divisão de Portugal, o Belenenses vinha conseguindo acessos em todos os anos. No final da temporada 2021/22, no entanto, uma ducha de água fria frustrou a torcida azul: a equipe terminou o Campeonato de Portugal (quarta divisão) na terceira posição, com uma dolorosa derrota na rodada final para o Moncarapachense, por 1 a 0, com o Estádio do Restelo cheio. O projeto do clube no entanto, vem sendo bem sucedido, e o objetivo é chegar ao mais alto escalão do futebol lusitano de forma sustentável.
“Estamos tentando dar passos sustentáveis, porque temos que casar a ambição desportiva com a situação financeira do clube. E nesse ponto de vista, tem que ser um caminho racional. Tem muita emoção em volta do clube, mas tem que haver um fato racional muito forte”, afirmou o presidente Patrick Moraes de Carvalho.
Apaixonado pelo Clube de Futebol Os Belenenses, Patrick Moraes de Carvalho assumiu a responsabilidade de conduzir o clube nessa longa caminhada. Seu objetivo agora é, mais do que apenas recolocar a equipe na Primeira Liga, torna-lo saudável, para que volte a brilhar e brigar por coisas grandes em Portugal.
“(O grande sonho é) Deixar, para as gerações futuras, o Belenenses na Primeira Liga, sustentável do ponto de vista econômico, para que no futuro o clube não caia nos mesmos erros do passado, portanto poder entregar um clube limpo, com futuro”, explanou o dirigente.
A relação do Belenenses e sua torcida é uma verdadeira história de amor. Os apaixonados pelo clube poderiam ter optado pelo “caminho mais fácil” de ficar ao lado do clube que se manteve na primeira divisão. Mas a escolha foi por apoiar e seguir aquele símbolo tradicional, que cresceram aprendendo a amar. O Belenenses voltará ao seu lugar. Cedo ou tarde, uma das camisas mais tradicionais e pesadas de Portugal, estará de volta à primeira divisão. E quando isso acontecer, será graças à sua torcida.
texto pulicado originalmente no site escateiosp.com.br
A Copa Paulista de 2022 começa em menos de um mês. A partir do dia 1º de julho, 17 times disputam o título estadual e as vagas no cenário nacional: o campeão pode escolher entre disputar a Série D do Campeonato Brasileiro ou a Copa do Brasil, enquanto o vice-campeão fica com a vaga restante.
A temporada de 1967 foi marcante para o Palmeiras. O time sagrou-se campeão brasileiro duas vezes no mesmo ano, sendo que uma destas conquistas, a do Torneio Roberto Gomes Pedrosa, o Robertão, aconteceu há 55 anos, no dia 8 de junho de 1967, quando a equipe venceu o Grêmio por 2 a 1, com dois gols de César Maluco.
Com a conquista posterior da Taça Brasil, aumentou-se para três o número de títulos brasileiros na estante alviverde naquele ano. A controvérsia é exatamente neste ponto: como pode ter havido duas competições com peso de Campeonato Brasileiro no mesmo ano? Acontece que, diferentemente do zombado por rivais, os campeonatos eram diferentes, mas, atualmente, possuem valores iguais, conforme a CBF.
O Robertão começou a existir em 67. Era organizado pelas federações paulista e carioca, como uma ampliação do Torneio Rio-São Paulo, e com a inserção de clubes de outros estados (Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Paraná). No total, foram 15 equipes participantes divididas em dois grupos, de oito e sete, nos quais todos se enfrentavam em turno único. No quadrangular final, Palmeiras, Grêmio, Corinthians e Internacional estavam classificados e jogaram turno e returno para definir o campeão, que acabou sendo o Palmeiras.
Já no segundo semestre de 67, o Palmeiras disputou a Taça Brasil, que era realizada em sistema eliminatório e indicava os representantes brasileiros à disputa da Libertadores do ano seguinte. Somente participavam o atual campeão e os vencedores dos estaduais anteriores (de 1966). Como o Alviverde foi campeão paulista na ocasião, entrou diretamente nas semifinais, eliminou o Grêmio e, na final, conquistou o título em cima do Náutico. É por isso, então, que são considerados dois ‘Brasileiros’ no mesmo ano, porque, afinal, foi somente a partir de 1971 que as competições foram unificadas e se transformaram em Campeonato Brasileiro.
© 2019. Futebol do Vale por Antonio Carmo.