O dia que José de Assis Aragão empatou o jogo para o Palmeiras
Ele não era atacante, tampouco vestia camisa verde. O homem que decidiu o clássico entre Palmeiras e Santos no Morumbi, em 1983, carregava cartões no bolso, tinha um apito à mão e era dono de um notável e até então desconhecido faro de gol. No dia 09 de Outubro de 1983, o então árbitro José de Assis Aragão marcou, sem querer, um gol para o time palmeirense depois de um bate-rebate na área no último lance da partida, que terminou empatada por 2 a 2.
Inicialmente, o inusitado lance foi encarado como um problema pelo ex-árbitro. Ao término do clássico válido pelo Campeonato Paulista, no Morumbi, Aragão, cercado por repórteres e jogadores do Santos, disse que o gol tinha sido válido porque o juiz fazia parte da partida. “O que eu posso fazer? Eu tô dentro do campo de jogo”, disse.
Mais de três décadas depois, Aragão, que à época chegou a pedir para ser afastado do quadro da Federação, encara a situação com bom humor. “Não sofri muito porque o jogo tinha pouca validade. Já estava tudo definido, era um cumprimento de tabela. Seria ruim se fosse uma decisão. No dia eu fiquei p.. com isso, mas foi a melhor coisa que aconteceu. Ninguém esquece, até hoje lembram disso. Todo mundo vai lembrar”, disse Aragão.
Ele estava certo ao validar o gol. A regra era clara naquela época: o Árbitro era considerado neutro nas partidas. Quando a bola batia nele, o jogo continuava em andamento, sem paralisações. Oficialmente, o gol do empate do Palmeiras foi creditado a Jorginho, que chutou a bola à meta. A finalização do meia sairia pela linha de fundo, mas a bola encontrou Aragão no meio do caminho.
Em 2020 a Internacional Board, órgão que regula as regras do futebol, fez uma mudança nesse item.
Agora, quando a bola bate no árbitro do jogo a partida é imediatamente paralisada e o árbitro devolve a bola para o time que a tinha no momento.
“Foi para entrar na história. Eu chutei a bola e ela ia passar do lado da trave. Eu fiquei em dúvida, nem sabia da regra. Eu achava que o Aragão estava impedido. Eu pensava: como é que a bola entrou?”, afirmou Jorginho.
O ex-jogador do Palmeiras também conta que os reencontros com Aragão sempre rendem uma brincadeira. “No começo eu falava: ‘valeu, golaço, muito obrigado pelo meu bicho’. Eu falava que ele estava com a camisa do Palmeiras por baixo”, disse.
Ficha da partida
Santos 2×2 Palmeiras – Campeonato Paulista – dia 9 de outubro de 1983
Local: Estádio do Morumbi. Público total: 37.519. Árbitro: José de Assis Aragão. Gols: Paulo Isidoro, Lino, Capitão e Jorginho (José de Assis Aragão, aos 46min 2º Tempo). Cartões Amarelos: Márcio, Serginho, Vágner e Carlão
Santos
Marola, Betão, Márcio, Toninho Carlos e Paulo Róbson. Dema, Paulo Isidoro e Pita. Lino, Serginho Chulapa e João Paulo. Técnico: Chico Formiga
Palmeiras
João Marcos, Silmar, Luís Pereira, Vagner e Carlão. Rocha, Jorginho e Aragonês (Hélio). Capitão, Baltazar e Carlos Henrique (Carlos Alberto Borges). Técnico: Rubens Minelli